Teatro Guarany

A história do Teatro Guarany se inicia em 1876 quando um grupo da sociedade santista fundou a Associação Teatro Guarany visando a construção de uma nova casa de espetáculos que substituísse o antigo local de apresentações, um antigo armazém localizado no Largo da Misericórdia (atual Praça Mauá). O velho armazém apresentava grandes problemas de estrutura e isso gerava reivindicações dos grupos que frequentavam o espaço. Este velho armazém existia como casa de espetáculos desde pelo menos 1830 em seu prédio típico do século XVIII.

Em 1880 a Associação abriu um concurso para a escolha do projeto arquitetônico do futuro teatro. O vencedor foi o engenheiro Manuel Ferreira Garcia Redondo com seu projeto neoclássico, sendo que a execução da construção ficou sob responsabilidade da serraria e carpintaria de Tomaz Antonio de Azevedo. Nesta época Benedicto Calixto, importante figura da cultura da Baixada Santista, era funcionário da dita serraria e foi ele quem executou a pintura das paredes internas e do teto; por este trabalho o pintor ganhou fama e conseguiu estudar na Europa. A construção foi finalizada somente em 1882, tendo sua inauguração feita em 7 de dezembro do mesmo ano.

O Teatro Guarany constituiu, desde o início, um lugar de encontro da sociedade santista, sobretudo dos grupos interessados na cultura, no teatro, e na política. Prova disso é que o local foi palco de discussões acerca do fim da escravidão que era uma grande questão política na época do final do Império (até 1889). Foi palco, também, da cerimônia fúnebre de Carlos Gomes em 1896.

Em 1910 a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia adquiriu o teatro e empreendeu reformas em sua estrutura. Ainda na década de 1910 e início de 1920 recebe grandes nomes da cultura nacional, como Olavo Bilac (em 1917) e Júlio Dantas (em 1923). Nos anos 1920, seu auge artístico, recebeu grandes espetáculos nacionais e internacionais, sendo considerado na época um dos teatros mais importantes do país. Nas décadas de 1920 e 1930 o teatro ainda exercia importante papel de encontro na cidade, pois, por ocasião da Revolução de 1924 serviu de ambulatório para os revoltosos e, em 1932, foi ponto de concentração dos oposicionistas de Getúlio Vargas.

Porém, ainda em seu auge, o teatro passou a concorrer com outras duas casas de espetáculo que foram fundadas em Santos: em 1923 o Teatro Cassino Parque Balneário e em 1924 o Teatro Coliseu. Esses novos locais de entretenimento renovou as exigências da burguesia cafeeira que os frequentava e, assim, o Teatro Guarany foi depreciado. Assim, essa classe que frequentava os espaços de encontro da alta sociedade santista passou a preferir os teatros novos e seus recursos técnicos.

A partir desse momento, o Guarany foi abandonado pela burguesia cafeeira e, dessa forma, ao longo dos anos, foi ocupado por outras classes. Durante os anos 1940 e 1950 foi palco de espetáculos considerados “menores” e sem projeção, pois eram espetáculos direcionados para classes menos abastadas e por essa razão eram considerados de menor projeção. É nesta época, também, que começou a ser frequentado por prostitutas e por frequentadores da “zona de meretrício” de Santos e isso é considerado a confirmação da decadência do Teatro. Nos anos 1950, passou por intensa reforma em sua estrutura para abrigar um cinema, bar e estabelecimentos comerciais de baixo custo. Observa-se, então, que a troca de classe frequentadora (primeiro a classe burguesa cafeeira, depois por pessoas de classes mais pobres, prostitutas e homens interessados) é o fator de diferenciação entre o “antigo espaço de glória e grandes espetáculos” para o espaço de decadência (sobretudo decadência moral) e deterioração.

O espaço fica dessa forma até 1981, quando, em 13 de fevereiro, encerra suas atividades. No mesmo ano, sofreu um grande incêndio que destruiu toda sua estrutura interna restando apenas as paredes externas, permanecendo abandonado. Em 1994 a Santa Casa leiloou o prédio que foi arrematado por U$90 mil por um comerciante. Em 2003 a prefeitura desapropriou o edifício, iniciando o processo de compra e recuperação do imóvel pelo Programa de Revitalização da Região Central Histórica, o Alegra Centro.

Após um longo processo de restauro, em 7 de setembro de 2008 o teatro foi devolvido com suas características originais. Desde então comporta espetáculos e abriga a Escola Municipal de Artes Cênicas.

O projeto arquitetônico original do teatro tinha forte influência neoclássica. Contudo, em 1910 passou por uma reforma que remodelou a fachada e, assim, o frontão triangular típico do neoclássico arquitetônico foi retirado, sendo adicionados alguns ornamentos em estuque na fachada nova. No seu interior destacam-se duas pinturas de Paulo von Poser, sendo a do teto a representação do romance O Guarany, de José de Alencar. Foyer do segundo piso é uma releitura do quadro de Benedito Calixto que represente o Monte Serrat.

INFORMAÇÕES DE TOMBO

INSTÂNCIAS E NÚMERO: CONDEPASA, Livro tombo 01, inscrição 16, folha 3, Proc. 13244/90-64, Resolução SC 03/92 de 25/01/92.

E&M Ensino e Memória Produções Editoriais. Inventário de estilos arquitetônicos da cidade de Santos, out. 2001. (Apoio Prefeitura Municipal de Santos e Seota – CONDEPASA).

Portal Turismo Santos. TEATRO Guarany. Disponível em <http://www.turismosantos.com.br/ptb/guia-de-santos/locais/ir/atracoes-em-santos/centro-historico/teatro-guarany>, acesso em 22 mai 2017.

Portal Novo Milênio. Nossos Primeiros Teatros. Disponível em <http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0121a.htm>, acesso em 22 mai 2017.

Portal Novo Milênio. Teatros Santistas. Disponível em <http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0121b.htm>, acesso em 22 mai 2017.

TEATRO Guarany. Portal São Paulo Antiga, Imóveis Antigos. Douglas Nascimento, 20 jul 2016. Disponível em <http://www.saopauloantiga.com.br/teatro-guarany/>, acesso em 22 mai 2017.

TEATRO Guarany, em Santos, completa 130 anos de inauguração . G1 Santos e Região, 7 dez. 2012. Disponível em <http://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2012/12/teatro-guarany-em-santos-completa-130-anos-de-inauguracao.html>, acesso em 22 mai 2017.